Capital Pulse

Do Uber ao ciclo dos emergentes: as teses que aceleram

João Piccioni

19 set 2025, 10:59 (Atualizado em 19 set 2025, 10:59)

Imagem gerada por IA – ChatGPT 

Market Pulse | Visão Macro 

Na semana passada, os dados de inflação dos Estados Unidos vieram relativamente bons — ou, ao menos, não ruins. O CPI de agosto subiu para 2,9% ao ano, contra os 2,7% observados em julho. O leve aquecimento já era de certa forma esperado, mas veio longe de uma escalada desenfreada. Já o PPI (Índice de Preços ao Produtor) exibiu uma queda de 0,1% na base mensal — 2,6% anualizados —, e acabou surpreendo positivamente os agentes. De forma geral, os núcleos cederam, houve menor pressão nos preços mais voláteis e as expectativas seguiram contidas, abrindo o espaço para Jerome Powell finalmente ceder. Para os mercados, foi o suficiente: as ações dispararam, em um daqueles raros momentos em que apetite ao risco saboreia um verdadeiro prato. 

Confesso que, desta vez, acompanhei tudo de longe. Estava de férias com as crianças, num merecido hiato da rotina do mercado. Acordava cedo, tomava café espiando algumas notícias, mas logo fechava a tela para mergulhos e brincadeiras. E, entre um mergulho e outro, vinha a sensação: “ufa, se é para me ausentar, que seja com os mercados em alta”. 

E na quarta-feira (17), finalmente veio a confirmação do primeiro corte dos juros americanos no ano. O comitê decidiu pelo corte de 25 pontos-base da taxa de juros, levando-os para a faixa que vai dos 4,00-4,25%. No comunicado, o FOMC reconheceu uma moderação no crescimento e no mercado de trabalho, mencionou avanço dos riscos de taxas de desemprego maiores, mas manteve a leitura de inflação ainda persistente. Na entrevista pós decisão, Jerome Powell deixou em aberto a possibilidade de mais dois cortes adicionais até o fim de 2025, novamente condicionados ao ritmo dos próximos dados de inflação e emprego.  

Por aqui, a decisão do Copom de manter a Selic nos 15% não surpreendeu. A mensagem de prudência deu o tom, justificada pelas incertezas fiscais domésticas e à dificuldade de ancorar expectativas. Se por um lado, a política monetária mais dura coloca rédeas à economia, por outro, abre espaço para que os juros de longo prazo cedam marginalmente, abrindo oportunidade atrelados ao juro real de médio e longo prazo. 

No pano de fundo, o dólar encontra-se exatamente no centro do Dollar Smile. Estar no meio dessa curva significa que os riscos globais estão, sob a ótica financeira, em seu menor nível — um ambiente em que os investidores se sentem mais confortáveis para buscar novas fronteiras de retorno. Tradicionalmente, o dólar tende a se valorizar em dois extremos: quando a economia americana está excepcionalmente forte, atraindo capital para dentro, ou quando o mundo enfrenta choques severos e a moeda americana funciona como porto seguro. No centro, como ele está agora, não sufoca os fluxos globais nem assusta os investidores. É justamente esse equilíbrio que tem impulsionado o apetite por risco, permitindo que ativos emergentes brilhem e que o ouro e criptomoedas encontrem espaço cativo nos portfólios. 

Os reflexos estão claros. Na bolsa brasileira, o Ibovespa vem renovando recordes recorrentes — marcou os 146 mil pontos —, embalado pelo apetite do investidor estrangeiro. Os fluxos para mercados emergentes sustentam este movimento positivo, ainda que, curiosamente, alguns vizinhos avancem ainda mais rápido: Colômbia e Peru já acumulam altas mais robustas do que o índice brasileiro neste ano (46,3% e 47%, respectivamente). É um lembrete de que o capital global não escolhe um único destino e de que o mapa dos emergentes pulsa, mais do que nunca, em várias direções. 

Do meu ponto de vista, sigo confiante de que o bull market permanece de pé. O ambiente de liquidez tende a melhorar com os cortes de juros nas economias desenvolvidas, criando terreno fértil para setores de maior beta: a tecnologia deve continuar como protagonista, as small caps americanas aparecem como candidatas naturais a capturar a reprecificação e as ações de emergentes seguem favorecidas pelo fluxo estrangeiro. Em resumo, vejo espaço para que esses segmentos liderem o ciclo positivo até o fim de 2025. Hora de colocar o capital para trabalhar (de novo). 

Strategy Catalyst | Mergulhando em nossas teses 

Uber: ultrapassando as barreiras da mobilidade 

O Uber finalmente se consolidou ao longo dos últimos anos. Depois de anos acumulando prejuízos e um IPO ruidoso, mas sem brilho, a companhia não só alcançou lucros consistentes como também se tornou uma boa máquina de geração de fluxo de caixa livre: foram nada menos do que US$ 8,5 bilhões nos últimos 12 meses, o que deu suporte para a aprovação de um programa de recompra de ações de US$ 20 bilhões, evidenciando a confiança da gestão em sua sustentabilidade financeira. 

Seu modelo de negócio se apoia em três frentes: Mobilidade, que segue sendo o núcleo rentável; Delivery (Uber Eats), que mantém forte expansão; e Freight (fretes), menos relevante, mas parte do ecossistema. Em 2025, a companhia reportou 180 milhões de usuários ativos mensais e 3,3 bilhões de viagens no 2T25, além de 36 milhões de assinantes no programa Uber One, responsáveis por mais de 40% das reservas brutas combinadas de Mobility e Delivery. Esses números reforçam a construção de uma plataforma diversificada, capaz de extrair valor de efeitos de rede, engajamento e novas frentes de monetização. 

Outro vetor de crescimento promissor é o negócio de publicidade. Com mais de 30 bilhões de sessões de usuários ativas ao ano, o Uber inseriu em sua plataforma o Journey Ads e listagens patrocinadas no Uber Eats, alcançando uma velocidade de vendas de US$ 1,5 bilhão logo no início da operação. Trata-se de um negócio adicional e de margens altas, que deve contribuir de forma significativa para a expansão de rentabilidade. 

Na direção autônoma, a empresa resolveu adotar uma estratégia focada em parcerias, ao invés de investir recursos em tecnologia própria. Atualmente, já colabora com o desenvolvimento de diversos participantes de mercado — incluindo a Waymo (subsidiária da Amazon), Baidu, WeRide, Pony.ai, Lucid e Nuro — e já iniciou projetos-piloto em cidades como Austin, Atlanta e Arlington. A filosofia é clara: incorporar “motoristas robôs” à plataforma da mesma forma que adiciona motoristas humanos, ampliando oferta e confiabilidade. Esse modelo reduz o risco de investimentos diretos, acelera a entrada neste mercado e preserva a flexibilidade estratégica. 

No entanto, é preciso reconhecer os desafios regulatórios e sociais que cercam a adoção em larga escala de veículos autônomos, além da competição de outros participantes, como por exemplo a Tesla, que buscam soluções proprietárias fora da rede do Uber. Ainda assim, o potencial de expansão é expressivo: apenas 1% a 2% das viagens globais são feitas por meio do ride-sharing nos dias de hoje, e a introdução de veículos autônomos pode multiplicar esse mercado em até dez vezes. 

Em síntese, a tese de investimento do Uber se ancora em três pilares: escala globalplataforma vigorosa com múltiplos vetores de monetização e capacidade de adaptação tecnológica. Mais do que uma empresa de mobilidade, o Uber já se afirmou como uma plataforma de consumo abrangente, que conecta transporte, delivery, publicidade e, em breve, veículos autônomos. Essa combinação de rede densa, diversificação de receitas e disciplina de capital fortalece sua posição como um dos nomes mais estratégicos do futuro da economia digital. 

Dentro da gestora, as ações do Uber estão presentes no recém batizado Empiricus Tech Growth FIF Ações (ex-Tech Bets), nosso fundo de tecnologia focado em companhias com alto crescimento, com uma participação de 11% do portfólio. Ainda enxergamos um potencial de longo prazo bastante interessante para a companhia liderada pelo CEO Dara Khosrowshahi. 

Fund Edge | Um breve lampejo sobre nossos fundos 

  1. Empiricus Tech Select FIF Ações – na última edição do Capital Pulse, havia trazido uma breve atualização do Empiricus Tech Select. Naquele momento, apesar da visão extremamente positiva, o comportamento do portfólio ainda deixava a desejar. Mas nada como uma semana de bull market. A boa surpresa do resultado trimestral da Oracle e a entrada das ações da AppLovin no índice S&P500 foram as responsáveis pela ignição de uma boa retomada. Até o fechamento da quarta (17), o fundo avançava mais de 5% no mês, mesmo com o enfraquecimento do dólar frente ao real. Nos últimos 12 meses, a rentabilidade do fundo está em 18%. 
  2. Empiricus Money Rider HF Global FIF Multimercado – o nosso MRHF tem apresentado um desempenho formidável neste mês de setembro. A diversificação na medida entre os diferentes books (ações, macro, long & short, commodities e renda fixa) tem proporcionado um equilíbrio interessante. Destaque para as posições de long & short — compradas em um ETF de momento baseado nas ações do S&P 500 e no ETF do Russell 2000, contra uma posição vendida em um ETF de baixa volatilidade, o USMV. No mês, até o dia 17, o fundo avançava 3,3%. Nos últimos 24 meses, o fundo avança cerca de 40%. 

Q&A | As perguntas dos nossos investidores e assessores 

“Estamos vivendo uma bolha de tecnologia puxada pela IA, ou ainda há fundamentos sólidos para sustentar essa valorização?” 

Não dá para dizer que é uma bolha. Os fundamentos são reais: a IA já está aumentando a produtividade em setores como saúde, indústria e finanças, e os investimentos em data centers e semicondutores são concretos. Mas para alguns casos, os investidores estão antecipando demais esses ganhos, o que deixa valuations esticados. Ou seja: não é a bolha clássica dos anos 2000, o famigerado dot com, mas é um terreno no qual o entusiasmo e o excesso se misturam. O investidor precisa diferenciar as histórias e avaliar com atenção as oportunidades. 

Qual a sua visão sobre o urânio? Ainda tem espaço para subir mais? 

O urânio ainda tem espaço para subir, especialmente porque a equação de oferta e demanda continua desigual: muitos países estão ampliando o uso da energia nuclear, enquanto o avanço da mineração leva anos para responder. Apesar do fluxo especulativo na tese, há um espaço grande para as ações ligadas ao setor continuarem avançando. Os anúncios recentes sobre o acordo entre os EUA e o Reino Unido relativos ao maior uso da energia nuclear ratifica o cenário positivo, que também deve ganhar o impulso do investimento contínuo na infraestrutura voltada para as operações ligadas à IA. 

Forte abraço,
João Piccioni


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