Capital Pulse

Mais alguns bilhões de dólares… 

João Piccioni

24 set 2025, 10:36 (Atualizado em 24 set 2025, 10:36)

Nvidia: é a vez dela…  
Imagem gerada por IA – ChatGPT 

Market Pulse | Visão Macro 

Os investimentos no segmento de Inteligência Artificial não cessam. Após a investida nas ações da Intel, Jensen Huang, CEO da Nvidia, anunciou uma rodada de nada menos do que US$ 100 bilhões de investimentos na OpenAI. Seu principal produto, o ChatGPT já acumula mais de 800 milhões de usuários ativos por semana, e o número de prompts (os chamados) são estimados na casa dos 2,5 bilhões por dia. O investimento de Huang vem na forma de parceria, um programa que une o fornecimento de créditos para o uso de GPUs, suporte de hardware e capital para acelerar o treinamento dos modelos da companhia liderada por Sam Altman. 

A estratégia de Jensen vai ficando clara: esticar o alcance da Nvidia em direção aos diferentes vetores inerentes ao ecossistema da computação acelerada e, assim, criar mecanismos para surfar ondas futuras que ainda estão distantes dos olhos dos investidores. Um exemplo clássico de condução corporativa com os olhos voltados para o horizonte de longo prazo – leia a nossa Carta Mensal de setembro, na qual eu comento sobre o olhar estratégico dos Três Horizontes. O poder multiplicador dessa abordagem sustenta as expectativas futuras e abre portas à manutenção da liderança no setor – e, também, na capitalização de mercado, que hoje ultrapassa a marca dos US$ 4,5 trilhões. 

Os movimentos da Nvidia foram suficientes para animar o setor inteiro. Afinal de contas, GPUs encaixotadas não fazem o verão sozinhas. Todo o aparato de infraestrutura é necessário para tocar as “fábricas de tokens e gerar experiências únicas aos usuários. Em primeiro lugar, vale mencionar o setor energético: os acordos envolvendo os EUA e o Reino Unido sobre o tema energia nuclear revigoraram o impulso às ações do setor. Os objetivos principais são acelerar o desenvolvimento e implementação de tecnologias avançadas – os pequenos reatores modulares (SMR) e reatores avançados – em ambos os países, e reduzir a dependência dos materiais nucleares providos pela Rússia.  

Em segundo lugar, vale mencionar a própria infraestrutura ligada aos data centers, atrelada principalmente à questão da comunicação interna. Nesse segmento, empresas como BroadcomArista Networks e a própria Nvidia (via Mellanox) lideram o desenvolvimento de tecnologias de interconexão de altíssima velocidade, fundamentais para suportar a corrida de treinamento dos grandes modelos de IA.  

Em terceiro lugar, o segmento de memórias de alta performance também foi catapultado. Empresas como SK Hynix, Micron e Samsung têm surfado a demanda crescente pelo HBM (High Bandwidth Memory), peça indispensável para o funcionamento das GPUs de ponta, criando um ciclo virtuoso em toda a cadeia de semicondutores. Em quarto lugar, é preciso mencionar o segmento de refrigeração. O crescimento exponencial da demanda por poder computacional pressiona os limites térmicos dos data centers, abrindo espaço para soluções que envolvem o liquid cooling e immersion cooling. Empresas como Vertiv, Schneider Electric e CoolIT Systems têm despontado, permitindo não apenas manter a estabilidade operacional, mas também reduzir custos energéticos em larga escala. 

No fim das contas, a ofensiva da Nvidia mostra que a inteligência artificial não é um jogo de uma peça só. Cada dólar investido pela companhia reverbera em uma cadeia ampla, alimentando um ecossistema cada vez mais robusto e indispensável ao futuro da computação. Sob a ótica de investimentos, ficar de fora desse ambiente é abrir mão de um dos maiores vetores de geração de valor na história do mundo das finanças. 

Strategy Catalyst | Mergulhando em nossas teses 

Quanta Services (NYSE: PWR) – Re-eletrificando a infraestrutura americana 

Poucas companhias conectadas à economia real chamaram tanto a minha atenção nestes últimos anos quanto a Quanta Services (NYSE: PWR). O negócio da companhia sintetiza bem o horizonte de transformação que a economia americana passará nos pelos próximos anos. Com um valor de mercado acima dos US$ 58 bilhões e uma receita líquida estimada para 2025 na casa dos US$ 28 bilhões, a empresa é a líder absoluta no fornecimento de soluções de infraestrutura elétrica na América do Norte, controlando quase 30% de participação de mercado no segmento de transmissão elétrica — um setor marcado por altíssimas barreiras de entrada e obsolescência estrutural da rede. 

O pano de fundo é claro: a rede elétrica americana carrega um déficit histórico de investimentos, com linhas de transmissão de energia que possuem mais de 50 anos em operação. Somado a isso, a revolução dos data centers deve, de acordo com a Deloitte, multiplicar por mais de 30 vezes o consumo elétrico até 2035, saltando de 4 GW para 123 GW . Esse movimento transforma a Quanta em fornecedora essencial não apenas de manutenção e expansão da malha elétrica, mas também de soluções especializadas para a implementação dos serviços de cloud — reforçadas pela aquisição da Cupertino Electric em 2024. 

Os números recentes refletem a execução consistente: backlog recorde de US$ 34,5 bilhões (1,5x a receita anual), margens em expansão e retorno anualizado de 42% nos últimos três anos, bem acima da média de retorno atualizado do S&P 500. Mesmo negociando a múltiplos elevados (28 vezes seus lucros para os próximos 12 meses), o mercado reconhece a natureza defensiva dos contratos de longo prazo com utilities, aliados a um perfil de crescimento típico de empresas de tecnologia. 

A nossa visão sobre a Quanta Services é bastante construtiva. A companhia está posicionada estrategicamente para capturar a convergência entre eletrificação, inteligência artificial e transição energética. É, ao mesmo tempo, uma “quase-utility” com receita recorrente e uma empresa de crescimento exposta à megatendências estruturais. O valuation exige disciplina de execução, mas o potencial de valorização segue atrativo em um horizonte de médio e longo prazo. 

Dentro do Empiricus WB90 FIF Ações, nosso fundo de ações globais, a posição em Quanta Services é uma das mais relevantes. A forte concentração de investidores institucionais na sua base acionária, ratifica a visão de longo prazo para a tese de investimento da companhia. A aposta estrutural na “re-eletrificação” da economia americana deve ser vista como uma das grandes oportunidades da década. 

Fund Edge | Um breve lampejo sobre nossos fundos 

1. Empiricus Carteira Universa FIM – faz algum tempo que não comento sobre as nossas estratégias locais, conectadas à Empiricus Research. Neste ano, sem sombra de dúvidas, o Empiricus Carteira Universa merece destaque. Dotado de um portfólio completo, recheado de ações locais, internacionais, títulos de renda fixa, ouro e cripto moeda, o portfólio baseado no relatório Carteira Empiricus tem apresentado um excelente desempenho. No ano, o fundo avança cerca de 18%, puxado pelo bom desempenho do book de ações local. Os destaques do ano vêm das ações da Direcional, BTG Pactual e SmartFit, com valorizações de 93%, 77% e 55%, respectivamente. Olhando à frente, a estratégia de se apoiar no fluxo global favorável ao país e nos valuations mais atrativos da bolsa brasileira devem continuar gerando bons retornos aos acionistas. 

2. Empiricus Cash Yield FIF RF – na abertura de hoje (24), nosso fundo de liquidez diária, o Empiricus Cash Yield, atingiu a marca dos R$ 600 milhões de patrimônio líquido. O fundo que possui uma estratégia bastante conservadora, calcada na aquisição de Letras Financeiras e Títulos Bancários de grandes Bancos brasileiros (classificados como S1 e S2 pelo Banco Central) e de títulos públicos pós fixados, apresenta um retorno de 10,43% no ano – cerca de 103% do CDI. O bom desempenho se deve ao cuidado e dedicação da nossa mesa de gestão de renda fixa, que vem trabalhando dia a dia na curadoria e seleção de bons ativos para a carteira. Desde o seu início, ocorrido no final de novembro de 2023, o fundo apresenta um retorno acumulado de 24,6%. (104% do CDI). 

Q&A | As perguntas dos nossos investidores e assessores 

“João, você continua enxergando a Europa como uma região que deve se beneficiar dessa onda global de saída de recursos dos EUA?” 

Minha visão sobre a Europa ainda permanece a mesma: apesar dos anúncios de estímulos fiscais e de uma política monetária mais branda, a região ainda enfrenta desafios estruturais importantes. A solução para o baixo crescimento econômico ainda não parece ter emergido e, por isso, algumas dúvidas sobre o potencial de longo prazo dos investimentos em ações do bloco começarão a brotar diante dos olhos dos investidores globais. Ainda assim, enxergamos oportunidades selecionadas em algumas companhias alemãs, especialmente àquelas conectadas ao setor de infraestrutura e tecnologia, como a Siemens Energy AG e SAP, e no segmento financeiro, como por exemplo o UBS AG (essas posições fazem parte do portfólio do Empiricus WB90). Mas aqui toda atenção é pouca: as ações europeias avançaram bastante nos últimos anos e qualquer soluço econômico pode levar de volta os recursos para a “segurança” do fluxo de caixa proporcionado pelas Big Techs americanas. 

“A manutenção da Selic em 15% indica que realmente chegamos ao fim do ciclo de cortes no Brasil?” 

Sim. Para nós, o ciclo de alta da política monetária chegou ao final. Elevar a taxa Selic para acima dos 15%, seria extremamente maléfico para a atividade econômica, que começa dar sinais pontuais de fraqueza. Olhando à frente, mantemos a visão de que a virada de mão acontecerá na reunião de dezembro. Nela, o Copom deverá cortar os primeiros 25 pontos base da taxa, iniciando um ciclo mais duradouro de cortes por aqui. Logicamente, a manutenção dos índices inflacionários será peça chave para que o Banco Central conduza os seus movimentos. Como sempre, a conferir.  

Forte abraço,
João Piccioni


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