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Como a Strategy usa engenharia financeira para acumular mais Bitcoin por ação

Desde 2020, a Strategy já realizou mais de 60 compras de Bitcoin.
Dá uma olhada:

O investimento total é de aproximadamente 42 bilhões de dólares, com um custo médio de US$ 71.000 por Bitcoin. Sim, já são quase 600.000 bitcoins acumulados.
Tá, mas como eles conseguiram isso?
Vou tentar explicar (e espero conseguir).
A Strategy levanta dinheiro de três formas para comprar Bitcoin:
1. Títulos conversíveis
São, basicamente, empréstimos que podem ser convertidos em ações da empresa.
Como funciona?
Credores emprestam dinheiro à Strategy e recebem cerca de 1% ao ano (isso pode variar conforme cada emissão). Se o preço das ações da empresa atingir determinado patamar, os credores podem converter o empréstimo em ações reais.
Ou seja: ganham juros enquanto mantêm uma espécie de opção de compra, caso a Strategy dispare.
Atualmente, existem cerca de US$ 8,2 bilhões em títulos conversíveis emitidos, com juros na casa de 1% ao ano.
Vantagens:
– Baixo custo de capital
– Sem diluição imediata dos acionistas
Desvantagens:
– Aumenta a dívida no balanço
– A conversão dos títulos pode diluir os acionistas
– Se o BTC cair, a empresa pode ter que pagar os credores sem caixa adicional
2. Ações preferenciais
Funcionam como um híbrido entre títulos e ações.
Ao comprar ações preferenciais, o investidor não está emprestando dinheiro (como no caso dos títulos conversíveis), mas sim adquirindo papéis que têm preferência no pagamento de dividendos — que, nesse caso, variam entre 8% e 10% ao ano.
Existem três tipos diferentes de ações preferenciais, com diferentes níveis de risco e retorno, para atrair perfis variados de investidores.
(Nos EUA, diferentemente do Brasil, ações preferenciais são obrigadas a pagar os dividendos acordados.)
Vantagens:
– Não aumenta a dívida no balanço
– Sem diluição imediata (exceto em casos de conversão)
– Atrai investidores que buscam renda e acreditam no longo prazo
Desvantagens:
– Dividendos são caros
– Podem ser dilutivos
– Se o BTC cair, o pagamento dos dividendos pode ficar oneroso
3. Oferta de ações
A empresa emite e vende novas ações para captar recursos.
Existem dois tipos:
→ Oferta pública (IPO ou Follow-on) — IPO, que é uma grande venda planejada de novas ações e acontece de uma só vez; Follow On, muitas vezes subscritos por bancos e anunciados com antecedência.
→ Oferta ATM (At the Market) — modelo preferido da Strategy. A empresa vende pequenas quantidades de ações no mercado aberto ao longo do tempo, a preço de mercado.
Vantagens:
– Não há endividamento, apenas emissão de novas ações
– Mais flexibilidade e eficiência na captação
Desvantagens:
– Diluição imediata dos acionistas
– Pode pressionar o preço das ações
O que você precisa entender:
A oferta de ações é a principal forma de a Strategy arrecadar recursos para comprar Bitcoin.
Conceito importante: PRÊMIO
Imagine que você compra uma casa que vale R$ 1 milhão, mas paga R$ 1,5 milhão. Os R$ 500 mil a mais são o prêmio.
No caso da Strategy, é possível calcular o prêmio pago por ação de Bitcoin.
Como?
Basta verificar quantos bitcoins a empresa possui, multiplicar pelo preço atual do BTC e deduzir todas as dívidas. Isso nos dá o Valor Patrimonial Líquido (VPL), ou Net Asset Value (NAV), em inglês.
Ou seja:
NAV = Tudo o que a empresa tem – o que ela deve
Mas aí vem a dúvida: só considerar os bitcoins faz sentido? Não deveria incluir também outras operações da empresa?
Sim, também tive essa dúvida. E, sim, o ideal seria considerar todas as operações.
Porém, no caso da Strategy, o mercado a trata quase como uma proxy de Bitcoin.
A empresa não gera lucro relevante com outros negócios. Ela é, na prática, uma holding alavancada de BTC.
Resultado:
Cerca de 99% do valor da empresa vem do Bitcoin acumulado. O core business virou “comprar mais BTC com dívida”.
Agora que você entendeu o NAV, aqui vai a fórmula do prêmio:
Prêmio = Valor de mercado / NAV
Se o resultado for 1, significa que a empresa vale exatamente o que tem em patrimônio. Sem prêmio.
No momento, a ação está sendo negociada com prêmio de 2,5x, ou seja: investidores estão pagando US$ 2,50 para cada US$ 1 de BTC que a Strategy detém.
E é aí que mora a oportunidade para a Strategy.
Ela consegue captar dinheiro vendendo ações caras (acima do valor justo), e usa esse dinheiro para comprar mais Bitcoin.
O diferencial da Strategy?
Eles realmente conseguem aumentar a quantidade de Bitcoin por ação. Veja esse gráfico:

Você não leu errado. Em janeiro de 2021, uma ação da Strategy representava 0,0005 BTC.
Hoje, representa 0,0022 BTC — um aumento de 4,4x na exposição por ação.
Ainda não entendeu? Vamos a um exemplo prático:
Suponha que a ação está com prêmio de 2x e a Strategy decide emitir 10% mais ações via oferta ATM.

Explicando a imagem acima:
1000 bitcoin / 100 ações em circulação = 10 bitcoins por ação
NAV = 1000 bitcoins x 100.000 dólares = 100 milhões
Market cap = 200 milhões (essa informação eu inventei, mas você encontra na internet)
Ou seja, a empresa está sendo negociada 2x o que ela realmente vale.
Eles emitem 10 ações, o que significa uma diluição de 10% para os investidores existentes, mas beleza, de 100 ações em circulação vai para 110.
Em seguida, vendem essas ações pelo preço de mercado e arrecadam 20 milhões (lembra que disse que o prêmio era de 2x).
Usam esses 20 milhões para comprar 200 bitcoins a um custo de 100.000 dólares, logo eles tem 1200 bitcoins que custam 100.000 dólares cada um, isso significa um valor patrimonial de 120 milhões de dólares.
Resultado:
Cada investidor termina com 9% mais BTC por ação do que antes.
Moral da história:
Se você compra 1 BTC, sempre terá 1 BTC.
Mas se compra ações da Strategy, sua exposição ao Bitcoin pode aumentar ao longo do tempo, graças à engenharia financeira da empresa.
Mas atenção!
Não é uma estratégia simples. E está longe de ser garantida.
Não pense: “vou comprar ações da Strategy e pronto, terei mais BTC no futuro”.
Há risco. Há alavancagem.
Você precisa analisar o prêmio e saber o ponto de equilíbrio em que vale mais a pena comprar ações da Strategy do que o próprio BTC.
(Mas isso é assunto para outra edição.)
Resumindo:
O mercado está de olho nisso. Ninguém sabe ao certo se é uma estratégia sustentável no longo prazo — especialmente para empresas que replicam esse modelo com outros criptoativos além do Bitcoin.
Por enquanto, nos resta analisar caso a caso e acompanhar o mercado.
Seguimos juntos!
Variações semanais (21/07/25 a 28/07/25)
₿ Bitcoin (BTC): US$ 118.184 117.462 | Var. -2,22% trading view
♦ Ethereum (ETH): US$ 3.792 3.766 | Var. +25%trading view
🟠 Dominância Bitcoin: 61,35 60,55% | Var. -6,24% trading view
🌐 Valor total do mercado cripto: US$ 3,83 3,86t | Var. +4,32%trading view
💵 Valor de mercado de stablecoins: US$ 265,945 261,102b | Var. +0,98% defillama
📊 Valor total travado (TVL) em DeFi: US$ 140,277 139,149b | Var. +8,89% defillama
* dados referentes ao fechamento em 28/07/25
Tópicos da semana
- Galaxy realiza a maior venda de Bitcoin da história para investidor iniciante: A Galaxy facilitou uma venda histórica de mais de 80 mil BTC, no valor aproximado de US$ 9 bilhões, em nome de um investidor da era Satoshi, marcando a maior transação de Bitcoin em valor até o momento. A venda, parte da estratégia mais ampla de planejamento patrimonial do investidor, sinaliza uma das saídas mais precoces e substanciais do mercado de ativos digitais.
- Ex-executivo da BlackRock se junta à empresa de tesouraria de ETH de Lubin como co-CEO: Joseph Chalom, anteriormente diretor-gerente da BlackRock, onde liderou a estratégia de ativos digitais e parcerias institucionais da empresa, juntou-se à SharpLink Gaming, Inc., uma importante empresa de tesouraria de Ethereum liderada pelo cofundador da Ethereum, Joe Lubin, como co-CEO. A SharpLink atualmente administra US$ 1,3 bilhão em tesouraria de ETH, posicionando-se como uma das maiores detentoras, atrás da BitMine, apoiada por Peter Thiel.
- BitMine dobra seus ativos em ETH para US$ 2 bilhões e lidera a corrida por títulos corporativos: A BitMine Immersion agora possui mais de 566.000 ETH (~US$ 2,04 bilhões), tornando-se a maior detentora de títulos do Tesouro Ethereum de capital aberto. Apoiada pelo Founders Fund de Peter Thiel e pela Ark Invest, a acumulação agressiva da empresa, com o objetivo de controlar 5% da oferta total, adicionou cerca de US$ 1 bilhão em ETH em apenas 10 dias. Essa iniciativa intensifica a corrida armamentista por ETH corporativo, ultrapassando a SharpLink e alimentando projeções de uma onda institucional de US$ 20 bilhões em Ethereum por meio de títulos do Tesouro e ETFs.
Gráficos da semana
Não teremos dessa vez, o texto sobre a Strategy já nos trouxe muita informação.
Temos um episódio novo no Crypto Never Sleeps com Fausto Botelho.
Ele é o mestre da análise técnica no Brasil e nesse episódio ele te ensina os segredos de análise para ganhar dinheiro com cripto.
O episódio está disponível no Youtube do Market Makers e também no Spotify.
Crypto Never Sleeps #14
Escrevo aqui no Radar Crypto representando o time da Empiricus Asset.
É sempre um prazer compartilhar essas ideias com vocês!
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Forte abraço,
Marcello Cestari