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Do preço ao fundamento: seguindo tendências em cripto

Vieses comportamentais exercem papel central nas decisões de investimento. Entre eles, destacam-se o comportamento de manada (a tendência de seguir as ações de um grupo, muitas vezes sem avaliação crítica) e o viés de confirmação, que leva investidores a interpretar seletivamente novas informações de modo a reforçar crenças pré-existentes. Esses e outros desvios cognitivos contribuem para que os preços dos ativos se movam de forma persistente em uma mesma direção, favorecendo a formação e manutenção de tendências.
Como abordagem de investimento, o trend-following existe há pelo menos dois séculos. Já no início do século XIX, o economista David Ricardo defendia máximas como “corte suas perdas rapidamente” e “deixe seus lucros correrem”, princípios diretamente relacionados a essa estratégia. Também conhecida como time-series momentum, ela parte da premissa de que ativos com desempenho recente positivo tendem a continuar subindo, enquanto aqueles com desempenho negativo tendem a continuar caindo. Em outras palavras, explora a autocorrelação dos retornos ao longo do tempo, buscando capturar movimentos persistentes de preço.
Com cerca de US$ 310 bilhões em ativos sob gestão, a indústria de Managed Futures é consolidada e amplamente dominada por trend-followers. Trata-se de uma estratégia reconhecida como elemento estrutural na construção de portfólios institucionais diversificados, conforme evidenciado no artigo “Building a Hedge Fund Allocation: Integrating Top-down and Bottom-up Perspectives”, publicado pelo Government of Singapore Investment Corporation (GIC) em colaboração com o JP Morgan.
Tendências costumam surgir quando os preços demoram a incorporar novas informações relevantes, como a divulgação de resultados corporativos ou mudanças no cenário macroeconômico — fenômeno amplificado pelos vieses comportamentais já citados. Essa sub-reação inicial cria espaço para um ajuste gradual, durante o qual o momentum se fortalece, alimentado tanto pelo comportamento de manada quanto por mecanismos de gestão de risco (como modelos baseados em VaR, que induzem compras adicionais em mercados em alta e vendas em mercados em queda). Em muitos casos, há ainda uma fase de sobre-reação tardia, até que níveis de preço percebidos como excessivos levem a uma reversão parcial do movimento. Em todo esse processo, a incerteza atua como catalisador central, prolongando a adaptação dos preços e sustentando a persistência das tendências.

Diferentemente dos mercados tradicionais, o universo de criptoativos carece de métricas amplamente aceitas para estimar o valor intrínseco dos ativos, o que torna os preços mais sensíveis a novas informações — sejam elas fatos concretos ou meras narrativas. Essa ausência de âncoras facilita oscilações mais amplas e persistentes, nas quais tendências se formam e se prolongam por períodos superiores aos observados em ativos tradicionais, criando um ambiente extremamente propício para estratégias de trend-following.
Um exemplo simples ilustra a eficácia dessa abordagem no mercado cripto: a estratégia seleciona os dez ativos mais líquidos negociados na Binance e mantém posição comprada quando o ativo, nos últimos cinco dias, registra a máxima dos últimos 20; e posição vendida quando registra a mínima dos últimos 20. Para controle de risco, adota-se um alvo de volatilidade constante de 50% ao ano. Apesar da simplicidade, essa estratégia apresentou um Sharpe ratio de 1 — evidenciando que, em cripto, até modelos básicos conseguem capturar tendências de forma rentável. Como referência, no mercado tradicional, estratégias de trend-following têm um Sharpe ratio esperado de aproximadamente 0,5.

Há diversas formas de aprimorar o perfil de risco-retorno dessa estratégia básica, como: substituir sinais binários por sinais contínuos, que capturam diferentes graus de convicção; diversificar horizontes temporais e metodologias de geração de sinais; incorporar a correlação entre ativos no processo de construção de portfólio; e definir controles claros de alavancagem.
Quem acompanha a indústria de CTAs provavelmente percebeu a deterioração da performance nos últimos anos — evidenciada, por exemplo, pelo retorno acumulado dos últimos cinco anos do SG Trend Index, composto pelos maiores trend-followers do setor — e pode questionar por que o mesmo não ocorreria no mercado de criptoativos. Não há consenso sobre as causas dessa underperformance, mas uma explicação recorrente é a redução acentuada da barreira de entrada: a estratégia tornou-se amplamente conhecida e implementada, a ponto de muitos a considerarem hoje mais próxima de um beta do que de um alpha. Tanto é que já existem ETFs que implementam essa estratégia em mercados tradicionais.

Embora o mercado cripto também apresente barreiras de entrada muito baixas — até mais que nos mercados tradicionais —, ele se diferencia pela ausência de parâmetros amplamente aceitos para determinar o valuation dos ativos. Sem essas âncoras, os preços se mostram mais sensíveis a novas informações, sejam factuais ou puramente narrativas. Essa característica não apenas favorece a formação de tendências, como frequentemente resulta em movimentos mais amplos e persistentes, criando um ambiente estruturalmente favorável ao trend-following.
Variações semanais (04/08/25 a 11/08/25)
₿ Bitcoin (BTC): US$ 119.294 | Var. +4,45%
♦ Ethereum (ETH): US$ 4,250 | Var. +21,56%
🟠 Dominância Bitcoin: 60,48% | Var. -2,71%
🌐 Valor total do mercado cripto: US$ 3,93t | Var. +7,42%
💵 Valor de mercado de stablecoins: US$ 270,355b | Var. +0,89%
📊 Valor total travado (TVL) em DeFi: US$ 151,216b | Var.+11,11%
* dados referentes ao fechamento em 11/08/25
Tópicos da semana
- Ordem de Trump permitirá ativos alternativos, como criptoativos, em planos 401(k): O presidente Trump assinará uma ordem executiva instruindo o Secretário do Trabalho a revisar a orientação fiduciária da ERISA, de modo que private equity, criptoativos, imóveis e outros ativos alternativos possam ser incluídos em planos 401(k) e outros planos de contribuição definida. A medida representa uma grande vitória para gestores de ativos alternativos, após orientações condicionais em 2020 e no governo Biden já terem permitido uma exposição limitada a mercados privados. Com US$ 8,7 trilhões em ativos de 401(k), BlackRock e Empower já estão preparando fundos que alocarão de 5% a 20% em investimentos privados.
- SEC aprova Liquid Staking e libera participação institucional: A SEC esclareceu que os receipt tokens de liquid staking não são considerados valores mobiliários quando as atividades subjacentes forem “ministeriais ou administrativas”, efetivamente dando sinal verde para plataformas de LST de protocolos. Isso abre espaço para estratégias institucionais que permitem obter rendimentos de staking entre 5% e 15% mantendo a liquidez.
Gráficos da semana
USDe supera a marca de U$ 10b em circulação.

A stablecoin USDe, do protocolo Ethena, vem ganhando tração no mercado. Desde a mínima registrada em junho de 2025, o token ENA já acumula valorização superior a 200%.
A hegemonia do dólar está em risco?
Esse é o tema do novo episódio do Crypto Never Sleeps, com Theodoro Fleury.
O episódio está disponível no Youtube do Market Makers e também no Spotify.
Crypto Never Sleeps #16
Escrevo aqui no Radar Crypto representando o time da Empiricus Asset.
É sempre um prazer compartilhar essas ideias com vocês!
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Forte abraço,
Henry Didio Sasson