Radar Crypto
Situação atual do Bitcoin e o que monitorar

O que aconteceu com o Bitcoin em novembro?
Após atravessar as duas semanas mais difíceis do ano, o sentimento em relação às criptomoedas atingiu níveis não vistos desde a liquidação em massa de 10 de outubro e o anterior “Liberation Day”.
No último mês, a capitalização total do mercado de criptomoedas perdeu mais de US$ 1 trilhão em relação ao seu pico de outubro. Isso inclui a recente queda de 6% a 8% observada na semana passada.
A queda do Bitcoin para a mínima de sete meses, a US$81 mil, reflete uma ampla reprecificação do mercado, à medida que os investidores reduzem sua exposição devido à renovada incerteza macroeconômica e à restrição de liquidez. O movimento foi exacerbado por US$2 bilhões em liquidações forçadas (parte dos US$30 bilhões desde 10 de outubro).
Fatores macroeconômicos que pressionaram o mercado cripto
A correção mais recente no mercado não veio do nada. O que detonou o movimento foi uma reprecificação pesada das expectativas de política monetária — tanto nos EUA quanto na Europa. Fed e BCE adotaram um tom mais duro sobre cortes agressivos de juros, e quando a liquidez aperta, ativos como Bitcoin sentem primeiro. Foi exatamente isso que aconteceu.
1. O vai-e-vem das expectativas de juros bagunçou o mercado
A paralisação do governo americano travou a divulgação de dados macro e derrubou a probabilidade de corte de juros de mais de 60% para ~25%. Com menos visibilidade, o mercado cortou risco, e isso pesou direto no BTC.
Só que o mercado é tão dinâmico que essa narrativa já virou pó: depois do discurso mais dovish do Fed, a probabilidade de corte voltou para cima e hoje o Polymarket precifica quase 90% de chance de corte em dezembro.
Foi uma montanha-russa de narrativa em poucas semanas — e essa volatilidade nas expectativas contaminou toda a precificação de ativos.
2. Liquidez apertando = menos dinheiro para risco
Além das expectativas de juros, os indicadores de liquidez pioraram:
- A Conta Geral do Tesouro (TGA) está alta e drenando liquidez (mas por outro lado é positivo quando o FED começar a injetar liquidez por meio do TGA, será muita liquidez)
- O QT segue firme, reduzindo o balanço (mas aqui também tem o outro lado da moeda, pois o FED já disse que vai encerrar o QT em dezembro e provavelmente poderemos ver o início do QE)
O conjunto tira dinheiro do sistema e diminui o combustível para ativos de risco. É muito parecido com o que vimos em 2023: enquanto a TGA drenava liquidez, o Bitcoin ficou travado ou corrigiu até as condições melhorarem.
3. O dólar ficou forte e isso é negativo para o Bitcoin
Em momentos de incerteza, os fluxos correm para ativos de refúgio e isso fortalece o DXY. Um dólar mais forte normalmente pesa no Bitcoin, e 2025 deixou isso claro: a correlação inversa entre BTC e DXY se manteve por 78% do ano. Quando o dólar sobe, o capital volta para ativos em USD, o apetite global por risco cai e o cripto fica sem fluxo comprador.
4. Aversão a risco geral: ações e crédito pioraram
Não foi só cripto que apanhou. Risco no geral deteriorou:
- O S&P 500 recuou,
- Spreads de high yield abriram,
- O VIX chegou a subir mais de 65% intradiário.
Esse ambiente puxou o Bitcoin junto, pois o BTC virou um proxy alavancado de tecnologia em 2025. A correlação de 30 dias do Bitcoin saltou para 0,77 com VGT e 0,70 com QQQ. Ou seja: em vez de servir como proteção macro, o BTC está sendo negociado como uma expressão alavancada das big techs.
E isso ficou ainda mais claro quando o setor de tecnologia/IA caiu após os apelos de executivos por suporte governamental — movimento que puxou o Nasdaq mais de 8% para baixo e arrastou o Bitcoin junto.
Isso não significa que será sempre assim, apenas que foi assim neste ano.
5. Posicionamento: o mercado ficou defensivo, não em pânico
Apesar do estresse, não estamos em modo capitulação:
- Taxas de financiamento voltaram às mínimas trimestrais (BTC 2,4% e ETH 4,6% anualizados).
- Open interest em ~US$ 129 bi → alavancagem sendo retirada, não adicionada.
- Relação long/short perto de 48/52 → cautela, não desespero.
- O sentimento está fraco, mas ainda longe de 2022.
6. ETFs mais fracos no mês, mas ainda fortes no ano
Os ETFs spot de Bitcoin nos EUA tiveram fluxos bem mais leves em novembro (~US$3,5 bi), mas no acumulado do ano já passam de US$22 bilhões.
Isso coloca o Bitcoin:
- Abaixo dos gigantes de ações e renda fixa,
- Mas muito acima da maioria dos ativos alternativos.
Ou seja: a demanda estrutural segue firme — novembro parece mais ciclo do que problema de fundo.
7. Sentimento: Medo & Ganância segue frio
O índice subiu de 10 para 15,6, mas ainda está abaixo do nível da queda da FTX em 2022. O mercado está defensivo, não está apavorado.
8. Fundamentos on-chain continuam sólidos
Mesmo com preços fracos:
- Hyperliquid, Aave, Jupiter e outros protocolos seguem gerando receitas estáveis,
- A atividade nos principais ecossistemas continua resiliente.
Ou seja: a queda veio do macro e do posicionamento — não de uma deterioração real dos fundamentos do setor.
No curto prazo, o comportamento do mercado cripto vai continuar seguindo a dança da liquidez global. Enquanto o Bitcoin segue sendo negociado como um ativo de alta volatilidade e sensível ao humor macro, os próximos movimentos dependerão de fatores como a força do dólar, as expectativas para juros e os dados econômicos que chegam nas próximas semanas.
Um DXY mais forte restringe liquidez e pressiona ativos de risco, enquanto a ata do FOMC e novos números de PIB, inflação e mercado de trabalho vão calibrar o quanto o Fed pode ou não cortar juros. Hoje, o mercado já precifica quase 90% de chance de corte em dezembro, mas qualquer surpresa nos dados muda tudo. No pano de fundo, sinais de liquidez no balanço do Fed e até o risco geopolítico — como eventuais avanços no plano de paz de Trump para a Ucrânia — podem alterar expectativas de inflação e, portanto, o apetite por risco.
No campo regulatório, há dois pontos importantes no radar.
O primeiro é a possível remoção da MicroStrategy dos índices da MSCI, já que a empresa se comporta cada vez mais como um ETF de Bitcoin alavancado. Se ela for excluída, fundos passivos terão de vender, aumentando volatilidade tanto na ação quanto, indiretamente, no BTC. A decisão sai em janeiro.
O segundo é a tramitação da Lei CLARITY, que pode se tornar o marco regulatório mais relevante dos últimos anos nos EUA. Se aprovada, ela libera bancos e instituições financeiras para participar diretamente de DeFi e ativos tokenizados — algo que pode desbloquear bilhões em liquidez institucional e acelerar a adoção de ativos digitais.
No micro do mercado cripto, alguns níveis chamam a atenção: US$81 mil e US$85 mil aparecem como suportes importantes, e o custo médio dos ETFs spot, na faixa de US$82 mil, funciona como um ponto psicológico para entradas e saídas. Já o preço médio estimado da MicroStrategy (US$74 mil) afeta mais o sentimento do que o fluxo real. Enquanto isso, o posicionamento dos investidores segue frágil: cerca de 35% dos detentores de BTC, 38% de ETH e 70% de SOL estão no prejuízo. Num cenário assim, muitos aproveitam qualquer alta para reduzir risco, o que limita a força das recuperações.
Em resumo, o mercado está navegando uma confluência de macro apertado, ruído regulatório e posicionamento defensivo. A boa notícia é que não há sinais de deterioração estrutural — mas, até que a liquidez volte a melhorar, os movimentos devem continuar travados entre suporte técnico, expectativa de corte de juros e o humor de curto prazo dos grandes fluxos.
Resumindo, a convicção é que a estrutura atual do mercado está voltada para a consolidação, e não para a reversão, a menos que haja riscos sistêmicos.
Variações semanais (24/11/25 a 01/12/25)
₿ Bitcoin (BTC): US$ 85.477 | Var. -1,90%
♦ Ethereum (ETH): US$ 2.755 | Var. -5,24%
🟠 Dominância Bitcoin: 59,42% | Var. +1,14%
🌐 Valor total do mercado cripto: US$ 2,87t | Var. -3,04%
💵 Valor de mercado de stablecoins: US$ 305,944b | Var. +0,59%
📊 Valor total travado (TVL) em DeFi: US$ 112,243b | Var.-4,37%
* dados referentes ao fechamento em 01/12/25
Tópicos da semana
- ETFs de Bitcoin são a principal fonte de receita da BlackRock: Os ETFs de Bitcoin da BlackRock se tornaram a principal fonte de receita da empresa, apesar de gerenciar mais de 1.400 ETFs com US$ 13,4 trilhões em ativos totais. As alocações estão se aproximando de US$ 100 bilhões. O IBIT foi lançado em janeiro de 2024 e atingiu US$ 70 bilhões em ativos em um recorde de 341 dias, estando atualmente em US$ 70,7 bilhões, com entradas líquidas superiores a US$ 52 bilhões em seu primeiro ano, enquanto gerou uma receita anual estimada em US$ 245 milhões em taxas até outubro. O ETF agora detém mais de 3% da oferta total de Bitcoin, já que o próprio Portfólio de Oportunidades de Renda Estratégica da BlackRock aumentou sua participação no IBIT em 14%. As saídas recentes são atribuídas ao comportamento esperado dos investidores de varejo durante quedas de preço, e não a uma fraqueza fundamental.
- A BitMine comprou 14.618 ETH (US$ 44 milhões) na quinta-feira: segundo dados da Arkham, poucos dias após ter anunciado outra compra de US$ 200 milhões, elevando seu total para 3,63 milhões de ETH — cerca de 3% de toda a oferta da rede, com a meta declarada de chegar a 5%. Mesmo sem confirmação oficial da nova transação, o movimento reforça a estratégia da empresa e o otimismo do chairman Tom Lee, que afirma que Wall Street e até a Casa Branca tenderão a favorecer o Ethereum como uma “chain neutra”. Apesar da recente queda geral do mercado, Lee prevê que o ETH possa bater fundo perto de US$ 2.500 e subir para US$ 7.000–9.000 até janeiro de 2026, enquanto projeta o Bitcoin acima de US$100 mil após uma postura mais dovish do Fed no fim do ano.
- A Ark Invest de Cathie Wood comprou 62.166 ações da Coinbase (US$16,5 milhões) em meio a uma queda de 30% no papel no último mês: sua maior compra de COIN desde agosto. O movimento, distribuído entre os ETFs ARKK, ARKW e ARKF, marca uma mudança na estratégia usual da gestora, que costuma comprar apenas em fortes recuos, e ocorre justamente quando o preço reage a um suporte importante próximo de US$250. A operação acompanha uma sequência de compras em outras ações cripto, como Circle, Bullish e BitMine. Em paralelo, Wood sinalizou otimismo com um possível rali do mercado, citando o fim do aperto de liquidez, a expectativa de encerramento do QT em 1º de dezembro e a chance de corte de juros pelo Fed. Segundo a Ark, cerca de US$70 bilhões já estão voltando para os mercados após o fim do shutdown americano — e outros US$ 300 bilhões podem entrar nas próximas semanas conforme o TGA se normaliza.
Gráfico da semana

O gráfico apresenta a evolução, de 2022 a 2025, da razão entre o NAV da Strategy (MSTR) em Bitcoin e o seu valor de mercado, já considerando as ações totalmente diluídas. A linha de “paridade” (1x) representa o ponto em que o valor de mercado da empresa equivale exatamente ao valor dos seus holdings em BTC: valores acima desse nível indicam que o mercado está pagando um prêmio em relação ao Bitcoin subjacente, enquanto valores abaixo indicam desconto.
Observa-se que, ao longo do período, essa razão oscilou bastante, com momentos de forte prêmio — especialmente entre o final de 2023 e meados de 2024 — seguidos de uma tendência de queda e compressão do múltiplo até perto da paridade no fim de 2025. Essa dinâmica sugere mudanças no apetite dos investidores por exposição “alavancada” a Bitcoin via MSTR: em fases de otimismo, o mercado paga múltiplos elevados sobre o NAV em BTC; à medida que o entusiasmo diminui ou os riscos percebidos aumentam, esse prêmio se reduz, aproximando o valor de mercado do valor intrínseco dos Bitcoins em balanço.
Atualmente, a razão entre o NAV da MicroStrategy (MSTR) em Bitcoin e seu valor de mercado, encontra-se próxima aos mínimos históricos observados em 2022. Essa configuração sugere um excesso de pessimismo e pode indicar um sinal de fundo para o Bitcoin, especialmente em um contexto de oscilações históricas onde prêmios elevados (acima de 2x em 2023-2024) deram lugar a compressões como essa, frequentemente precedendo recuperações quando catalisadores como adoção institucional ou ciclos de alta do BTC se materializam.
O seu dinheiro vale menos a cada dia — e talvez você nem tenha percebido.
No novo episódio do Crypto Never Sleeps, recebo Thiago Fagundes e Felipe Whitaker (Mercado Bitcoin) para destrinchar a revolução silenciosa das stablecoins, o “Pix Global” que já está transformando o sistema financeiro mundial. Falamos sobre perda de poder de compra do real, dólar digital como proteção, movimento institucional enquanto o varejo dorme, regulação cripto no Brasil e até as previsões para o Bitcoin neste ciclo.
Se você quer entender para onde o dinheiro está indo, esse episódio é obrigatório.
O episódio está disponível no Youtube do Market Makers e também no Spotify.
Crypto Never Sleeps #30
Escrevo aqui no Radar Crypto representando o time da Empiricus Asset.
É sempre um prazer compartilhar essas ideias com vocês!
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Empiricus Essential Crypto
Forte abraço,
Marcello Cestari