Capital Pulse
Recalibrando o Ciclo Global

Imagem gerada por IA – ChatGPT
Market Pulse | Visão Macro
“With policy in restrictive territory, the baseline outlook and the shifting balance of risks may warrant adjusting our policy stance.”
“Com a política em território restritivo, o cenário-base e a mudança no balanço de riscos podem justificar um ajuste na nossa postura da política monetária.”
— Jerome Powell, Jackson Hole Economic Symposium (August 22, 2025)
Jerome Powell finalmente cedeu aos dados. Diante de um mercado de trabalho americano mais frágil e uma inflação ainda insistente, o presidente do Federal Reserve praticamente selou o destino da política monetária americana.
A frase acima, dita em Jackson Hole, marcou uma inflexão importante: o reconhecimento explícito de que a balança dos riscos está se movendo, saindo da inflação e caminhando para a atividade. Em outras palavras, a política monetária restritiva já cumpriu seu papel, e os sinais vindos da economia real justificariam uma mudança de postura.
No encontro do ano passado, apesar da semelhança do tom, Powell havia sido mais comedido. Antes das eleições, e diante de um quadro menos assertivo quanto à inflação e ao déficit fiscal americano, deixou clara a importância da leitura das estatísticas econômicas para a tomada de decisão. Ainda assim, reduziu o Fed Funds por três vezes (setembro, novembro e dezembro), abrindo espaço para o rali de final de ano.
Agora, diante de um quadro mais fragilizado do mercado de trabalho, espero que Powell adote a mesma dose de complacência (espero que o Fomc decida por levar os juros para 3,75% a 4% no final do ano). Em seu discurso, dois pontos chamaram atenção e devem balizar os próximos movimentos do Fed.
O primeiro diz respeito às tarifas. Powell afirmou que, embora possam gerar pressões pontuais sobre os preços, as tarifas adicionais não devem produzir efeitos duradouros sobre o processo inflacionário. A avaliação predominante é de que se trata de um choque “on-off”, com impacto concentrado no curto prazo e tendência de dissipação ao longo do tempo — o que abre espaço para uma política monetária menos restritiva.
O segundo ponto está ligado à taxa de juros neutra — aquela que equilibra atividade econômica e inflação sem pressionar preços. Powell indicou que essa taxa pode estar hoje mais próxima de 2,75% a 3,00%, abaixo do nível terminal atual e abaixo da faixa de restrição vigente. Isso reforça a tese de que a política monetária já se encontra suficientemente contracionista e pode ser flexibilizada sem perder credibilidade.
Esse quadro mais claro envolvendo um possível afrouxamento monetário à frente, trouxe de volta o ímpeto dos investidores globais. O enfraquecimento generalizado do DXY (cesta que engloba diversas moedas globais contra o dólar) foi um sinal claro da busca por retorno. As bolsas de valores voltaram a buscar máximas históricas — o índice S&P 500 voltou a tocar os 6.500 pontos — enquanto a maior parte dos títulos de renda fixa se valorizaram com a queda das taxas de juros em praticamente todos os vértices da curva. O ether, criptomoeda da rede do Ethereum, foi o destaque com um avanço de 14%, e atingiu um novo topo, ao redor dos US$ 4.900. O VIX (o índice do medo) fez mínimas — cerca de 14,2 pontos — com as apostas dos hedges funds em um ambiente menos volátil.
Entretanto, para que o impacto do discurso de Powell continue a reverberar positivamente, a consumação do afrouxamento monetário — idealmente os 25 pontos base — precisa ocorrer já na reunião do Fomc em 17 de setembro. Sem essa entrega, a frustração pode reacender a volatilidade que hoje parece controlada. Até lá, os dados de emprego (payroll) e inflação ao consumidor (CPI) a serem divulgados se tornarão verdadeiros termômetros do mercado. Com céus abertos ou com nuvens negras, o rumo dos ativos globais dependerá de como essas leituras moldarão as próximas decisões de Powell (em tempo, não descarto a hipótese de uma queda de 50 pontos base nessa primeira reunião, caso os dados mostrem uma deterioração além do esperado…).
Strategy Catalyst | Mergulhando em nossas teses
Sea Limited: o crescimento nas margens
O caso da Sea Limited (NYSE: SEA) representa uma das teses mais interessantes em nossa alocação global. Trata-se de uma plataforma digital dominante no Sudeste Asiático, que opera em três verticais de alto crescimento — e-commerce (Shopee), serviços financeiros digitais (Monee) e jogos eletrônicos (Garena). Essa estrutura criou um ecossistema interligado bastante robusto, no qual os efeitos de rede e ganhos de escala retroalimentam as vertentes do seu negócio. Embora as ações da companhia tenham sido penalizadas pelos ciclos anteriores de queima de caixa e competição agressiva, acreditamos que 2025 marcará um ponto de inflexão estrutural em sua trajetória.
A Shopee, líder do e‑commerce da região do sul asiático, tem ampliado sua presença em diversos países emergentes e deve apresentar um GMV da ordem de US$ 140 bilhões neste ano. O aumento recente do take rate, não só melhorou a geração de caixa, mas impulsionou ganhos de eficiência por meio da racionalização logística e alocação mais eficiente de incentivos. Em seu modelo de negócio, esses ganhos fluem naturalmente para o Monee, que entrega serviços financeiros digitais — desde pagamentos e carteira digital até crédito e banking — principalmente para usuários e vendedores dentro do ecossistema Shopee, fortalecendo a monetização interna com menor custo de aquisição. O avanço desse segmento tem sido forte: no 2T25, o avanço das receitas financeiras superou a marca dos 70% na comparação anual. A Garena complementa o ecossistema como fonte sólida de caixa, graças ao seu portfólio de jogos com forte engajamento (como Free Fire) e receitas recorrentes. A sinergia entre os três pilares confere à Sea uma vantagem difícil de ser replicada pelos concorrentes.
Em resumo, a Sea Limited está posicionada agora como uma das nossas principais apostas em empresas de crescimento estrutural. Com presença dominante em uma região com baixa penetração digital e dinâmica demográfica favorável, a companhia reúne os elementos que buscamos em uma growth stock: um modelo de negócios escalável, vantagens competitivas sustentáveis e capacidade de reinvestimento com retorno elevado. Acreditamos que, mesmo após o forte ajuste dos últimos anos, a Sea segue como candidata a entregar uma taxa interna de retorno substancial nos próximos ciclos. Seguimos confiantes no “compounding” dessa tese.
A posição está presente no Empiricus Tech Select, com peso de 7% no patrimônio; no Empiricus Tech Bets (recém batizado como Empiricus Tech Growth), com alocação de 10%; e no Empiricus Money Rider HF Global, com participação de 5%.
Fund Edge | Um breve lampejo sobre nossos fundos
- Empiricus Cash Yield FI RF – Nosso fundo de liquidez ultrapassou a marca dos R$ 540 milhões de patrimônio e continua entregando prêmios em relação ao CDI. Até o dia 27, o fundo apresentava um retorno de 1,08%, ou 102% do CDI. No ano, o prêmio em relação aos benchmarks está em 103,36% do CDI. Vale ressaltar que o fundo possui uma estratégia bastante conservadora, calcada na alocação em Títulos públicos pós fixados e títulos bancários classificados como S1 e S2.
- Empiricus Atrium FIC FIDC – A nossa estratégia voltada para o crédito estruturado continua a entregar retornos resilientes, mesmo diante da implementação do IOF nos FIDCs. Até o dia 25, o fundo entregava um prêmio de 115,5% do CDI. Em termos de alocação, começamos a implementar o investimento em nosso fundo exclusivo gerido pela Solis Investimentos. O objetivo é claro: diversificar e ampliar o número de vetores positivos para o fundo.
- Empiricus Digital Crypto FIF Mult – Nossa estratégia ativa em Criptomoedas tem apresentado bons retornos no mês, impulsionado pelo incremento da posição em Ethereum. No ano, até o dia 25, o fundo avançava 8,37%. Nos últimos doze meses, o retorno acumulado é de 65,4%. Vale ter em mente que o fundo é composto majoritariamente por ETFs de criptomoedas e é polarizado.
Q&A | As perguntas dos nossos investidores e assessores
“Com a sinalização mais dovish do Fed, vocês pretendem aumentar risco nos fundos globais?” — Assessor, São Paulo
R: Já vínhamos com uma visão mais construtiva para ativos de risco nos fundos com mandato global, tanto sob a ótica de tecnologia quanto do lado geográfico. A mudança de tom do Fed só reforça essa convicção. Reduzimos taticamente o caixa e ampliamos a exposição à renda variável. A assimetria começou a pesar a favor do risco.
“Como vocês estão enxergando o Brasil nesse novo regime monetário global?” — Consultor, Curitiba
R: O Brasil entra nesse novo ciclo em posição favorável. Eventuais reduções de juro lá fora, abrem espaço para o nosso Banco Central afrouxar as rédeas por aqui. Apesar da inflação insistente e do ambiente fiscal carregado de dúvidas, esperamos que o primeiro movimento de 25 pontos base ocorra já na última reunião do ano. Neste sentido, continuamos construtivos para a Bolsa brasileira — esperamos que o Ibovespa atinja os 143 mil pontos no final do ano —, mas preferimos manter um peso maior em ações ligadas ao dólar e bancos.
“Quais são as perspectivas da Empiricus Asset para o Bitcoin e o Ethereum nos próximos meses?” — Assessor, Florianópolis
R: Sigo bastante construtivo com o espaço cripto, especialmente com o Bitcoin e Ethereum. O avanço na regulamentação americana (Genius Act e Digital Clarity Act) proveram o ingrediente restante para elevar o patamar de legitimidade institucional. Para o Bitcoin, esperamos que o movimento de valorização continue, sustentado por fluxos crescentes de alocadores tradicionais e pela narrativa de reserva de valor em um ciclo de juros em queda. Já o Ethereum deve se beneficiar diretamente da expansão mais veloz do ecossistema de stablecoins, fundamentais nesta nova roupagem transacional da moeda fiduciária.
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Encerramos aqui a primeira edição do Capital Pulse. Obrigado por seguir conosco nesta nova fase — mais direta, mais segmentada e, esperamos, ainda mais relevante para sua tomada de decisão.
Nosso compromisso segue o mesmo: oferecer contexto, visão e acesso aos bastidores das nossas estratégias de gestão. Se tiver sugestões, críticas ou quiser compartilhar sua leitura dos mercados, ficaremos felizes em ouvir.
Afinal, o Capital Pulse é feito para você!
Forte abraço,
João Piccioni
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